"Músicos e dançarinos são grandes amigos
Que desde criança sabem se virar
Soltando o que der, soltando
Músicos e dançarinos
Minas e meninos com seus instrumentos que sabem dançar
Pra lá e pra cá, gingando
Olha uma pipa no ar
Quem vai com ela dançar?"
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Que desde criança sabem se virar
Soltando o que der, soltando
Músicos e dançarinos
Minas e meninos com seus instrumentos que sabem dançar
Pra lá e pra cá, gingando
Olha uma pipa no ar
Quem vai com ela dançar?"
Músicos e Dançarinos - Palavra cantada (assista o clipe)
E MENINO FAZ BALLET? ORAS, MENINO FAZ O QUE ELE QUISER.
Sempre
gostamos de dança e arte, desde pequenos nossos filhos vão conosco a
espetáculos, museus, shows, música. Viajamos muito juntos, gostamos de arte de
rua, espetáculos ao ar livre, festivais. Temos muito envolvimento com arte,
muitos amigos e familiares tocam ou cantam, então, acreditamos que isso seja
natural para eles, pois faz parte da rotina da família. A irmã do João, a Maira,
faz ballet desde os dois anos, hoje tem quase 11. O João sempre foi um menino
muito alegre, cheio de imaginação e ama dançar desde que aprendeu a caminhar.
Acho que muitas crianças são assim. Ele ia conosco levar a irmã na aula de
dança e queria ficar. Aos três anos começou a dançar ballet. Era o único menino
da escola. Pra ele foi muito natural
isso de dançar. Para crianças é algo simples. Se gostam de dançar, dançam.
Apenas isso. Adultos é que são mais complicados. No ano seguinte João quis
experimentar outras atividades. Pediu pra fazer futebol, mas queria continuar
dançando. Por questão de horários - não gostamos que tenha a “agenda” lotada de
compromissos - pedimos que ele escolhesse o que queria fazer naquele ano. Fez
futebol, mas nunca esqueceu a dança. Como muitas crianças, João é cheio de
energia, é muito comunicativo, tem o corpo vibrante. A dança canaliza a energia
e transforma em expressão. Através da
dança ele consegue traduzir e trabalhar os sentimentos. Se pudesse, faria
street dance, sua modalidade favorita. Ficou chateado quando viu a irmã se
apresentando e ele não. Passado um tempo fomos novamente assistir a uma
apresentação e ele viu que agora havia dois bailarinos “grandes” na escola. Ele
ficou tão feliz, tão empolgado. Ele já via muitos bailarinos nos festivais de
dança que a irmã participava, mas aqui era novidade. Ele mesmo foi falar com a
professora e pedir para voltar. Não sabemos se o João sonha em ser bailarino ou
se continuará dançando. Acreditamos que as pessoas precisam ter a oportunidade
de se expressarem, então permitimos que nossos filhos façam isso. João não
precisa “abrir portas” para outros meninos, essa não é o objetivo dele estar
dançando. Não queremos que ele leve essa bandeira, pois pode ser pesada demais
e ele, certamente, não tem maturidade para isso. João precisa apenas saber que
pode ser quem ele quiser, se sentindo seguro, feliz e apoiado em suas escolhas.
Ele está se experimentando, assim como toda a criança deveria ter espaço para
fazer. João faz ballet por que sim (ou, melhor, porque não?). Pode ser que ano que vem
ele descubra outra coisa. Sobre preconceito, claro que é uma questão que todos
pais e mães se preocupam ao permitir que seus filhos façam algo “diferente”. Apesar
de nós termos sempre feito o esforço de descontruir estereótipos de gênero em
casa, a sociedade ainda é muito sexista. O machismo é algo presente e precisa
ser apontado e pontuado sempre que aparece. A educação para uma sociedade mais
justa e humana tem que começar na educação e, mais ainda, no exemplo que damos
aos filhos. Quando deixamos o João fazer ballet aos 3 anos, tivemos longas
conversas entre nós e com alguns amigos sobre isso. Será que ao permitirmos que
ele fizesse algo que não é convencional, pelo menos não aqui em Venâncio Aires,
estaríamos expondo-o a algo que ele mesmo não teria maturidade para encarar? Ou
que, no futuro, poderia se ressentir de não termos impedido que ele se
expusesse, já que era muito pequeno para avaliar isso? Então conversamos com
ele e a irmã longamente. Perguntamos o que responderiam se alguém dissesse que
ballet era coisa de menina. Maira disse que só perguntaria isso quem não
conhecesse a história do ballet (que foi criado por meninos), mas João, com
apenas três anos, respondeu - “Ué.... Vou dizer a verdade, que não existe coisa
de menino ou de menina, que existe coisa que a gente gosta ou não gosta”.
Durante
o ano acompanhei várias reações de amigos dele e, definitivamente, as crianças
pequenas são muito mais sábias que nós. Então algum colega encontrava com ele
na rua, vestido com a roupa do estúdio e sapatilha na mão e dizia: Eu sei que
tu faz ballet. João respondia: sim, tu
podia ir lá uma hora dessa dançar . E o colega respondia: é! Legal! Uma vez
ouviu que ballet era coisa de menina. Parou o que estava fazendo e deu uma aula
sobre quem criou o ballet. Depois ensinou uns passos aos amigos que gostaram
muito. No espetáculo de final de ano, vestido com o figurino azul clarinho, no
meio das bailarinas e brincando de ninja, vimos João sendo chamado por um colega
mais velho da escola. Bem maior do que o João, jogador de futebol, mascote de
time da cidade. Confesso que fiquei com medo do que ele poderia dizer. Ele se
aproximou do João e disse: cara, cuida pra não sujar tua roupa antes da
apresentação. Eu derreti por dentro.
João respondeu: valeu!
Claro
que nem tudo são flores. Ouço com frequência de outras mães coisas do tipo: mas
teu marido aceita? Penso em muitas respostas antes de abrir a boca, mas, por
fim, acabo me fazendo de boba e respondendo: não entendi, porque não aceitaria?
Hoje
já não nos preocupamos tanto com o que o João possa passar por conta das suas
escolhas. Vamos lidando com isso na medida em que apareçam. Penso que por ele
ser pequeno tudo isso é muito natural para ele e para os amigos que vão
crescendo com essa referência. Talvez para os bailarinos que começaram maiores,
tendo que “se explicar” para os colegas e muitas vezes sem o apoio da família a
luta seja maior. Quem luta sozinho sofre mais. Mas aqui, por enquanto, vamos
desconstruindo o que é ruim bem devagar e erguendo no lugar um espaço de amor,
de tolerância, de respeito às escolhas e livre expressão. Enquanto dançar for
bom pra ele, será bom pra nós.
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